Meu povo, preste atenção
ao canto que eu entoar
no tempo de Jeremias
tamanho foi o meu penar
que estas lamentações
de “A” a “Z” vou cantar:
Diz um “A”, diz um “A”, diz um “A”:
- Ah! como está tão deserta
quem era tão povoada;
parece pobre viúva
quem antes se orgulhava;
rainha entre as nações,
hoje ao imposto obrigada!
Diz um “BÊ”, diz um “BÊ”, diz um “BÊ”:
- Banhadas ‘stão suas faces,
corre o pranto a noite toda,
daqueles que a amavam,
já ninguém mais a consola;
dos seus amigos traída,
são inimigos agora.
Diz um “CÊ”, diz um “CÊ”, diz um “CÊ”:
- Cercou Judá a vergonha,
escrava foi desterrada,
em terra estranha hoje mora
sem paz, sem lar, sem pousadas;
aqueles que a perseguem
agarram-na sufocada,
Jerusalém, Jerusalém,
|:volta para teu Senhor,
volta para teu Senhor!:|
Diz um “DÊ”, diz um “DÊ”, diz um “DÊ”:
- De luto estão as estradas
que rumam para Sião,
a suas festas, quem vem?…
Suas portas, que solidão!
Seus sacerdotes, suas jovens,
toda a cidade, aflição!
Diz um “E”, diz um “E”, diz um “E”:
- Ei-los felizes, tranquilos,
os que de Sião se apossaram,
pois o Senhor a castiga,
seus crimes o provocaram,
cativos, todos os seus filhos
os opressores levaram.
Diz um “FÊ”, diz um “FÊ”, diz um “FÊ”:
- Fenece toda a beleza,
Sião, tão desfigurada,
seus chefes são cães sem dono,
parecem rês enxotada,
caminham cambaleantes,
tocados qual vil manada.
Jerusalém, Jerusalém,
|:volta para teu Senhor,
volta para teu Senhor!:|
Diz um “GUÊ”, diz um “GUÊ”, diz um “GUÊ”:
- Gravados em sua lembrança,
dias de grande aflição,
quando seu povo aí
dos inimigos nas mãos,
e ninguém socorria
e grande era a gozação.
Diz um “HAGÁ”, diz um “HAGÁ”, diz um “HAGÁ”:
- Havia graves pecados,
Jerusalém, quem os fez!
Quem antes muito gabava.
cospe-lhe agora a nudez;
gemendo, o rosto entre as mãos,
tenta esconder sua tez.
Diz um “I”, diz um “I”, diz um “I”:
- Impuras são suas vestes,
não quis pensar no depois;
hoje enterra na lama,
quem consolava se foi…
“Senhor, vê meu sofrimento,
quanto o inimigo me dói!”
Diz um “J”, diz um “J”, diz um “J”:
- Jazem seus ricos tesouros
nas mãos dos seus adversários;
pasmada viu os pagãos
entrar em seu Santuário,
gente por ti proibida
de orar no encontro sagrado.
Jerusalém, Jerusalém,
|:volta para teu Senhor,
volta para teu Senhor!:|
Diz um “LÊ”, diz um “LÊ”, diz um “LÊ”:
- Lamenta o povo e geme
por um pedaço de pão;
entrega todas suas joias
por sua sustentação…
“Senhor, vê até que ponto
chegou minha humilhação!”
Diz um “MÊ”, diz um “MÊ”, diz um “MÊ”:
- Meditem vocês que passam
pelo caminho que eu vou,
me digam, vocês me digam
se há dor como minha dor…
E vejam como maltratam
quem o Senhor castigou!
Diz um “NÉ”, diz um “NÊ”, diz um “NÊ”:
- Nestes meus ossos um fogo
do alto ele ateou,
armou-me uma esparrela
e para trás me passou,
e qual cidade arrasada,
na solidão me deixou.
Diz um “O”, diz um “O”, diz um “O”:
- Oh! como pesa em meu dorso
das minhas culpas o fardo,
que o Senhor amarrou,
nos ombros meus pendurado;
entregue aos inimigos,
um pobre traste encurvado.
Diz um “PÊ”, diz um “PÊ”, diz um “PÊ”:
- Pegou meus caros valentes,
para bem longe os mandou;
para matar meus soldados
u’a multidão convocou;
e a capital de Judá,
bela donzela esmagou.
Diz um “QUÊ”, diz um “QUÊ”, diz um “QUÊ”:
- Que grande pranto que eu choro,
meus olhos são água só;
quem me conforta está longe,
quem de mim sentia dó;
meus filhos estão perdidos,
venceu o forte, o maior…
Jerusalém, Jerusalém,
|:volta para teu Senhor,
volta para teu Senhor!:|
Diz um “RÊ”, diz um “RÊ”, diz um “RÊ”:
- Reza de mãos estendidas
Sião, sem consolação;
manda o Senhor inimigos
acurralar a nação;
Jerusalém para eles
é lixo e podridão!
Diz um “SI”, diz um “SI”, diz um “SI”:
- Sim, justo é o Senhor,
pois lhe desobedeci;
vejam vocês, povos todos,
a dor que mereci:
ver minhas filhas, meus filhos,
no cativeiro, eu vi!
Diz um “TÊ”, diz um “TÊ”, diz um “TÊ”:
- Tentei chamar meus amantes,
mas foram só falsidades,
meus anciãos, sacerdotes,
morreram foi na cidade,
quando buscavam comida,
passando necessidade.
Diz um “VÊ”, diz um “VÊ”, diz um “VÊ”:
- Vê, Senhor, minha tristeza,
minhas entranhas remoem,
meu coração se perturba,
pois não cumpri tua ordem;
na rua matam meus filhos,
em casa todos já morrem.
Diz um “XIS”, diz um “XIS”, diz um “XIS”:
- “XIS” é o mistério da dor,
gemer sem consolação;
meus inimigos me escutam,
fazem de mim gozação;
meu dia já consumaste,
o deles logo verão!…
Diz um “ZÊ”, diz um “ZÉ”, diz um “ZÊ”:
- Zela tão bem no castigo
que a eles vais aplicar,
como soubeste punir-me
por todo este pecar;
sem conta são meus gemidos,
meu coração a parar…